No geral é assim:
Acordamos em uma hora determinada, de segunda a sexta. Trabalhamos, estudamos, tiramos notas baixas, levamos esporro dos chefes. Ficamos atolados de serviço, trabalhmos fora do expediente. Fazemos trabalho de escola, de faculdade. Ficamos horas lendo livros, apostilas, levamos o trabalho pra casa.
Dividimos nossos problemas com os pais, com os nossos amigos, com os nossos companheiros. Batalhamos pelo pão nosso de cada dia ou lutamos para que um dia possamos comprar o nosso. Depois vem o fim de semana. Saímos pra nos divertir. Quando podemos, extrapolamos um pouco: uma peça de teatro, uns chopes com os amigos. Alguns tomam mais chopes, outros menos. Outros preferem ir a outros lugares. Fazemos revoluções em mesas de bar...
No geral é assim:
Acordamos quando queremos. Não trabalhamos às segundas. Arquivamos processos contra coronéis do Senado. Vamos aonde queremos, quando queremos. Somos uma vergonha e, mesmo assim, sorrimos. Sorrimos porque somos uma vergonha e ninguém liga. Não temos medo algum, somos poderosos. Porque quase ninguém sabe quem somos e o que fazemos. E os que sabem, discutem em mesas de bar, falam que vão mudar o mundo, mas não tiram nem a poeira do tapete da porta de casa.
Nós colocamos a poeira debaixo do tapete. Nós somos a sopa, sem mosca. Somos poderosos, invulneráveis. Somos o que queremos ser.
Nunca fomos o futuro do país. Somos sempre o presente. O presente é o que importa pra nós e mais nada.
No geral é assim:
Não acordamos. Não dormimos. Não sabemos mal que horas são. Sentimos frio, sentimos calor. Nosso pé queima no asfalto. Não temos sapato, chinelos...quase nunca...nossa roupa é gasta. Não temos pai, não sabemos ou não conseguimos mais chorar. Fome, muita fome...
Morremos um pouco a cada dia. Olhares de fúria dos garçons dos bares nos observam expulsando a gente dali. Só queremos vender balas, chicletes, amendoim...No geral, nos olham com desprezo.
Todos, em geral. De tudo, em geral.
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Música do Dia: Pequena memória para um tempo sem memória (Gonzaguinha)
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