quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Cálice-Texto de Karine Duarte

O texto a seguir foi escrito por Karine Duarte, minha Epifania. Ela o escreveu em 1999.

'Estava ouvindo Chico Buarque no pc...para ser mais exata o que me fez pensar foi a música Cálice...Que música bem escrita, que sutileza (Como eu queria escrever assim.). É exatamente essa palavra que descreve a minha percepção nesse momento “sutileza”. Afinal, na época da ditadura não podia não ser sutil, esquisito, não? Ser direto nem pensar, não podia falar...a regra era do silêncio, quer dizer, silêncio não, a regra era do barulhinho que soava bem aos ouvidos dos “capitães”. Era imposto dizer aquilo que “outros” querem e por isso permitem.
O pensamento não era crime, mas o que é o pensamento sem a ação, sem a prática? Acho que ele se perde no mundo das idéias pelo menos para mim... É assim que eu vejo. Para não deixar esses pensamentos, ou melhor, essa indignação, esse querer e ter que falar, para não morrer de “sufocação” era preciso expressão, mas como ter “expressão própria” numa terra de comandados? Tinha que ser gênio como Chico Buarque capaz de dizer tudo com sutileza que torna a mensagem clara a quem quer perceber, a quem ele queria atingir e ao mesmo tempo quase imperceptível àqueles que não podiam ouvi-la e esses só escutavam, existe uma diferença em ouvir e escutar... Acho que a maioria só escuta, não ouve, só aceita, não assimila, só existe e não vive... Por isso, quando se escuta, as coisas passam, não são assimiladas... Isso tudo me fez pensar no hoje... Temos a liberdade de expressão, nós podemos criticar... De qualquer forma... escrita, falada ou televisionada ...cantada ...e no entanto o que temos? Nada ...não dizemos nada ...pelo menos nada de interessante (Nossa eu descrente Karine!)...aos olhos políticos de nossa realidade...digo nós...eu e todos...deveríamos começar sendo, mas ser em um mundo onde a maioria não é, percebi que é muito difícil, exige força e cuidado...força para não se abater com as criticas e os rótulos ... será sim intitulado num linguajar mais popular de chato, que virou sinônimo de idealista e idealista sinônimo de utopia, e utopia de insensatez... Eu sei bem o que é ser intitulado... mas acredito que devemos SER sim...só a nossa vontade, a nossa expressão, poderá colocar em prática, tirar do mundo das idéias tudo aquilo em que acreditamos... Devemos falar, gritar, escrever...estamos treinados a aceitar a informação ou a opinião enlatada da tv ou de outros, desses que não SÃO.
Essas informações vomitadas só deviam servir para que tenhamos mais subsídios para defender uma opinião e ouvir, não escutar, ouvir a opinião dos outros ...enfim para aprendermos...e não simplesmente falarmos “Sim senhor!”... Não nascemos para isso, nascemos para nos expressar, seja de qual forma for, mas o ser humano precisa da realidade de um verdadeiro estado repressor para se manifestar contra o que está ali, evidente explícito... O perigo é que a realidade de manipulação e repressão hoje é implícita, é sutil como a música do Chico para um estado repressor explícito, entende? Funciona ao contrário, a sutileza hoje está do lado de lá e ela funciona bem, assim como a música do Chico, funciona bem para quem só escuta...
Nos fazem acreditar que somos livres, donos das nossas vidas e principalmente da nossa opinião, do nosso pensamento. Que triste isso, não saber se é você que pensa ou se alguém te “mandou” pensar assim, é uma linha tênue entre a escolha e a imposição... é assim com a maioria, essa maioria de analfabetos, de mal informados, não de conformados, os conformados somos nós, esse povo mesmo, essa elite intelectual, das universidades, das escolas, a adolescência cada dia mais “seriado de filme americano” ou “idealismo teórico” onde o discurso é lindo, mas como mudar o mundo, não, não tenho essa pretensão e para mim o mundo começa a mudar quando começamos a nos mudar, e isso faz sim efeito ...
Onde está o estímulo dessas pessoas, dessa juventude, não de ir para as ruas com a cara pintada (somente), é válido, usar o corpo para se expressar, mas será que a maioria sabia o que realmente estava fazendo ali ou foram na onda, foram esses jovens que tiraram o Collor do poder ou foi a elite que não o queria mais lá, ele já tinha servido bem... Não sei, não sei mesmo...
Eu viajo, é o que dizem, por isso escrevo e quer saber, não ajuda muito, mas me expresso, posso não chegar à resposta, mas elaboro uma série de perguntas. Uma vez um professor meu me disse que entramos na escola para aprendermos a responder e esquecermos de perguntar, faz todo o sentido, quem pergunta, quem se indaga, muda, porque reflete, a reflexão é um problema, o pensamento é um problema... um problema para “eles”...
Somos tão superficiais, a música que nos chega é tão superficial tão vazia não nos transmite muita coisa ou eu diria nada... Mas é esse tipo de cultura que a nossa grande mídia nos oferece... É mais fácil vender aquilo que não faz pensar, é mais "fácil" não pensar, ou melhor, esquecer das coisas...tem muita coisa errada no Brasil, no mundo ...ou até nas nossa vidas e na maioria das vezes ou a maioria das pessoas se calam porque não vale a pena falar, se expor, bater o pé para se fazer valer, a acomodação, o costume impera, afinal nos acostumamos, né?
Não me importo de ser mais uma chata...eu sou ...uma super chata e não me importo mais ...eu me importo com aquilo que eu acredito, para o meu bem e das pessoas que amo pelas coisas que acredito.'



10/07/99

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

O Meu Pôr do Sol (ou Uma Declaração de Amor)

No último sábado fiz os preparativos para minha viagem esperada do ano: Ilha Grande. Entendi como um passo importante pra minha vida, já que seria a primeira vez que iria acampar na praia. Posso dizer com sinceridade que nunca fui muito chegado à praia, mas encarando de frente essa resistência e me apoiando no meu velho e otimista 'pelo menos', sabia que ia gostar.

É claro que não só pelo lugar, mas também pela companhia agradabilíssima daquela que faz minha vida mais feliz, mais epifânica...com mais sentido: Karine Duarte.
No dia seguinte aos preparativos, lá pelas 4 horas da manhã, chegamos na Rodoviária Novo Rio. Ensaiamos em comer alguma coisa, mas desistimos assim que chegamos na bancada da lanchonete. Cada passo, cada respirar, cada momento alimentava aquela minha alma faminta que era alimentada pelo amor mútuo que existe entre nós dois. Nada mais importava...Compramos as passagens e entramos no ônibus, rumo à Mangaratiba onde pegaríamos um barco até o Abraão e de lá até o Camping.

Tínhamos a certeza de que passaríamos momentos felizes e essa certeza não foi em vão. Aquela convivência de perceber o outro na sua mais fina intimidade, na sua maior certeza de que não somos nada perante à natureza foi primordial para que entendéssemos aqueles momentos e que refletíssemos sobre a vida, sobre nossos sentimentos...sobre tudo, enfim, que nos faz bem.

A certeza de que se existe inferno, nós transformamos em céu. De que se existe tristeza, a alegria prevalece.

Mudei muito nessa viagem. Aprendi muito. Desde comer isca de peixe até a gostar de cebola, mesmo que de forma não convencional. Aprendi o valor da vida e a perceber que meu porto seguro é lá e que ELA é lá (e meu porto seguro).

domingo, 7 de dezembro de 2008

Here Comes The Sun

Minha mãe passa pelo corredor e assobia 'Here Comes The Sun'.

Pelo menos é isso que entendo.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

...

As reticências...

Reticências são reflexões da alma.
O que se pensa, mas não é dito.

O que se escuta e se mantém calado.
O que suspira e entende-se como algo.
Entende-se como nada.

Reticências são desabafos.
Reflexos da alma.

Reticências podem significar EPIFANIA, ou até mesmo APORIA.
Ou nenhuma das opções acima.
Reticências é tudo e nada ao mesmo tempo.
Tende ao infinito, mas pode tender a zero.
Reticências podem ser bobagens ditas em um blog na internet.
Podem ser notícias de jornal sem fundamento, ou até bem escritas e fundamentadas.

Reticências, para mim, hoje em dia inspiram felicidade.
Inspiram harmonia, visão de um mundo melhor.

É saber que toda vez que encontro essas tais reticências, lembro-me dela.
Dela em sua plenitude, sabendo utilizar reticências em qualquer ocasião.

Mas não preciso encontrar reticências pra lembra dela.
Não preciso de nada.
Ela me acompanha e pronto.

Tá aqui, tá do outro lado da tela lendo esse texto nesse exato momento.
Tá com enxaqueca.
E sabe que pode contar comigo com ou sem reticências.




Homenagem à Karine Duarte, EPIFANIA da minha vida.

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Música do Dia: Sem Fantasia - Chico Buarque e Maria Bethânia